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Carnaval como ferramenta de combate ao Racismo Estrutural.

Durante minha vida, escolhi erguer uma bandeira para defender: A luta contra o preconceito. Independente da natureza e da extensão, devemos compreender que o preconceito mata. Porém, para combater os preconceitos precisamos conhecer os fatores sociais estruturantes por trás do fenômeno e nos reconhecermos preconceituosos. A partir disso, podemos ajudar a construir uma sociedade mais justa, compreensiva e plural.

Devemos considerar o Carnaval como importante instrumento para a luta contra o precoceito racial, que vai muito além de um momento festivo. Devemos compreender os enredos carnavalescos como uma voz ativa da negritude. Neste ano, vale o destaque para as Escolas de Samba do Rio de Janeiro: Paraíso do Tuiuti, com o enredo Honra ao almirante negro!; a Portela com o enredo Um defeito de cor; e a Mangueira com o enredo A voz negra do futuro. Para as escolas paulistanos, meu destaque é para o enredo Ifá dos Academicos do Tucuruvi.

O Carnaval como Ferramenta de Resistência:

O Carnaval se configura como um espaço de contestação e transformação social, onde a população negra assume o protagonismo e celebra sua cultura com orgulho e exuberância. Através das diversas manifestações carnavalescas, como os blocos afro, escolas de samba e grupos de maracatu, o Racismo Estrutural é desafiado e combatido de diversas maneiras:

  • Valorização da cultura negra: O Carnaval celebra a riqueza da cultura afro-brasileira, com seus ritmos, costumes, vestimentas e tradições, promovendo o reconhecimento e a valorização da identidade negra.
  • Empoderamento da comunidade negra: O Carnaval é um momento de empoderamento para a comunidade negra, onde indivíduos se unem e celebram sua ancestralidade, história e força cultural.
  • Denúncia do Racismo Estrutural: Através de sambas-enredo, fantasias e músicas, o Carnaval se torna um espaço para denunciar as desigualdades raciais e as diversas formas de opressão que afetam a população negra.
  • Promoção da igualdade racial: O Carnaval contribui para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as pessoas, independentemente de sua raça, tenham o direito de celebrar sua cultura e se expressar livremente.
Rio de Janeiro, 2017 – Desfile da escola de samba União da Ilha do Governador, pelo grupo especial, no Sambódromo (Fernando Frazão/Agência Brasil) – CCBY

Compreendendo o Racismo Estrutural:

O racismo estrutural, como uma teia invisível, permeia nossa sociedade, perpetuando desigualdades e injustiças raciais. Mais do que atos individuais de discriminação, ele se manifesta em sistemas e instituições, moldando a vida de pessoas negras e impactando significativamente sua saúde mental.

Segundo Sue (2010), o racismo estrutural se caracteriza por:

  • Preconceitos internalizados: crenças negativas sobre a inferioridade de pessoas negras, presentes tanto em indivíduos negros quanto brancos, perpetuando a subordinação racial.
  • Instituições racistas: leis, políticas e práticas que discriminam pessoas negras, limitando suas oportunidades e acesso a recursos.
  • Impacto desproporcional: as desvantagens sociais e econômicas recaem desproporcionalmente sobre a população negra, gerando disparidades em áreas como educação, saúde, moradia e justiça criminal.

Efeitos na Saúde Mental:

O racismo estrutural causa sofrimento emocional profundo, impactando a saúde mental da população negra de diversas maneiras:

  • Traumas psicológicos: experiências de discriminação, violência e microagressões geram traumas, levando a estresse tóxico, ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) (Fanon, 1967; Jones, 2000).
  • Baixa autoestima: a internalização de estereótipos negativos pode levar a uma visão negativa de si mesmo, impactando a autoestima e o autoconceito (Cross, 1991; Helms, 1990).
  • Sentimentos de raiva e frustração: a percepção de injustiça e desigualdade gera raiva e frustração, que podem se manifestar como irritabilidade, ressentimento e até mesmo comportamentos autodestrutivos (Comba, 2013; hooks, 1992).
  • Desconfiança e isolamento social: o medo de ser discriminado pode levar ao isolamento social e à desconfiança em relação aos outros, impactando a qualidade de vida e as relações interpessoais (Boykin & Ellison, 1995; Carter, 2007).

Rompendo Barreiras para a Liberdade Psicológica:

É fundamental combater o racismo estrutural para garantir a saúde mental da população negra. Algumas ações são essenciais:

  • Políticas públicas: implementação de políticas que promovam a igualdade racial e combatam a discriminação em todas as esferas da sociedade (Organização das Nações Unidas, 2015).
  • Educação antirracista: desconstrução de estereótipos e promoção da diversidade nas escolas e demais instituições (Tatum, 1997; DiAngelo, 2018).
  • Apoio psicológico: acesso a profissionais de saúde mental qualificados e sensíveis às questões raciais, que ofereçam terapia e suporte emocional (Sue & Sue, 2003; Carter, 2007).
  • Fortalecimento da comunidade negra: criação de espaços de apoio e empoderamento, promovendo a identidade cultural e a resistência à opressão (hooks, 1992; Comba, 2013).

A luta contra o Racismo Estrutural e a busca pela liberdade psicológica da população negra são processos contínuos que exigem ações conjuntas e persistentes. O Carnaval, com sua energia contagiante e espírito de contestação, se configura como um aliado importante nessa luta, promovendo a valorização da cultura negra, o empoderamento da comunidade e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Referências:

  • Boykin, A. W., & Ellison, C. G. (1995). Double jeopardy: African Americans and mental health. Journal of Black Psychology, 21(2), 137-153.
  • Carter, R. T. (2007). Racism and psychological distress: An overview of the research. Journal of Black Psychology, 33(2), 167-184.
  • Comba, E. E. (2013). The color of trauma: Racism as a public health crisis. Psychotherapy and Social Justice, 21(2), 127-140.
  • Cross, W. E., Jr. (1991). Shades of black: Diversity in African American identity. Temple University Press.
  • DiAngelo, R. (2018). White fragility: Why it’s so hard for white people to talk about racism. Beacon Press.
  • Fanon, F. (1967). Black skin, white masks. Grove Press.