Se pensarmos sobre o paradoxo do tempo, no que diz respeito sobre o que existe ou não existe, perceberemos que o tempo em si não existe. Me explico: o passado já existiu, portanto não existe mais, sendo apenas um recorte fragmentado de memória que conseguimos nos recordar ou compreender por meio de relatos históricos. O futuro ainda não existiu, logo, também não existe. Nesse momento, você deve estar esperando a conclusão de que apenas o presente existe, certo? Mas pense comigo. A próxima frase que você lerá nesse texto, ainda está no seu futuro. Pronto! Você acabou de ler a frase e ela já está no seu imediato passado! Não pode ser “deslida”. O que quer dizer que o presente é um fragmento ínfimo de uma unidade de medida que é praticamente impossível de sentir.
Como então é possível sentir e compreender o presente? O presente nada mais é do que nossa consciência transitando em um locus temporal definido. Nesse exato momento, sua consciência está percorrendo as linhas desse texto, compreendendo por meio da sua percepção as palavras que acabou de ler, enquanto projeta em um futuro próximo a expectativa de conclusão em um mar de possibilidades.
Quando penso sobre isso, em minha mente vem uma imagem de um fluxo percorrendo um infinito que transita entre passado e futuro caracterizando a percepção de presente.
Algumas pessoas têm dificuldades em controlar o trânsito do fluxo de consciência entre passado e futuro, projetando-se para lugares distantes. Por exemplo: quantas vezes ao ler um livro, sua mente foi para outro lugar distante e, página após página, você não fazia mais ideia do que estava lendo?
Um processo importante para a prática do mindfulness é tornar-se consciente dessa consciência. Esse processo é muito bem explorado no arcabouço teórico da Gestalt terapia de Fritz Perls, a qual ele chama de awareness, que é um termo difícil de traduzir, mas deve ser compreendido como a consciência da consciência. É um tornar-se consciente de que existe consciência nesse momento e, por meio desta consciência, controlá-la.
Quer dizer que nesse exato momento, quanto eu me torno consciente da minha consciência, eu olho para meu mundo interior e consigo controlar com mais precisão o locus temporal de trânsito dessa consciência.
Muitos acreditam que mindfulness está atrelado a meditação ou com religiosidade, mas acredite, não se trata disso.
Ter a consciência da consciência é focar a atenção plena no que estou sentindo e percebendo nesse exato momento (que prefiro chamar de locus temporal para uma melhor compreensão).
Como fazer para praticar isso?
A prática do mindfulness não se limita a momentos formais de meditação, mas pode ser incorporada em cada instante do seu dia. Comece prestando atenção à sua respiração, observando o fluxo natural do ar entrando e saindo do seu corpo. Essa simples ação pode ser uma âncora para o momento presente, ajudando a acalmar a mente e trazer clareza, mas lembre-se torne-se consciente sobre cada evento que ocorre neste momento, da sua respiração até a execução mais complexa do seu movimento.
Conecte-se com seus sentidos ao realizar atividades cotidianas. Ao tomar banho, sinta a água em sua pele, a temperatura, o aroma do sabonete. Ao comer, saboreie cada alimento, percebendo as texturas, os cheiros e os sabores. Ao caminhar, observe o movimento do seu corpo, o contato dos seus pés com o chão, a paisagem ao seu redor.
Esteja presente em suas emoções e pensamentos, sem julgamento. Quando surgirem, apenas observe-os como nuvens que passam no céu da sua mente, sem se deixar envolver por eles. Cultive a gentileza consigo mesmo, reconhecendo que distrações e julgamentos são parte da experiência humana. Se você se perder em pensamentos, gentilmente traga sua atenção de volta presente consciência neste locus temporal.
Lembre-se: se o presente é construído pela consciência em ação, tudo o que está acontecendo exatamente agora com você é definido pela forma como você consegue perceber os fenômenos que te cercam. Explore isso!