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Antes de mergulharmos nos tratamentos para os transtornos ansiosos, é fundamental compreender o que exatamente é a ansiedade e como ela se desenha em nossas vidas.

A Ansiedade enquanto mecanismo de defesa

Nós, seres humanos, desenvolvemos algumas emoções até os nossos primeiros seis meses de vida. Essas emoções são chamadas de emoções básicas e a ansiedade é uma delas, da mesma forma que a raiva, a tristeza, a felicidade e o nojo. Porém, a ansiedade está associada ao medo, podendo algumas vezes até ser considerada um sinônimo de medo.

Cada emoção desperta em nós reações fisiológicas diferentes, mas todas elas possuem funções específicas atreladas à nossa sobrevivência. A ansiedade, por exemplo, faz com que nosso coração dispare, nossa pressão arterial aumente, ficamos ofegantes e começamos a transpirar. Isso acontece porque nosso corpo está se preparando para “lutar ou fugir”, expressão que ficou conhecida por conta de um fisiologista norte-americano chamado Walter Cannon, ele foi professor da universidade de Harvard, e usou essa expressão para descrever a reação típica de um animal diante do perigo.

Podemos entender então a ansiedade como um sofisticado mecanismo de defesa, evoluído durante centenas de milhares de anos para nos proteger de perigos que potencialmente podem nos colocar em risco de vida.

Por exemplo: imagine que você é um líder novato de um grupo de turismo que levou um pessoal para fazer um passeio na savana. No meio da caminhada em que você está conduzindo o grupo aparece um leão. Aí você paralisa, olha para ele e ele olha para você… Nesse momento o seu sistema de ansiedade é ativado para que você possa responder da melhor maneira possível.

A resposta à situação do líder diante do leão varia conforme a criação de cada um. Se você é filho de um domador de leões, pode ser que a sua estratégia de ação seja completamente diferente da minha que cresci vendo os leões devorando zebras nos programas do Animal Planet da Discovery Channel. Apesar disso, independentemente da resposta, há sempre um momento crucial de preparo que moldará sua decisão.

Outro ponto relevante é que a ansiedade é percebida por aqueles próximos a nós, gerando um estado de alerta contagioso. Quando pessoas ao redor estão ansiosas, é comum que a ansiedade se propague, criando um ambiente tenso.

A palavra “ansiedade” evoca duas sensações opostas: uma positiva e outra negativa. Quando dizemos, “Estou ansioso pelo meu aniversário amanhã”, a sensação é positiva, carregada de expectativa. No entanto, uma frase idêntica, como “Estou ansioso pela prova de amanhã”, provoca uma sensação negativa, gerando angústia.

A diferença reside no controle sobre o evento futuro. No aniversário, temos controle; na prova, a incerteza gera um futuro “descontrolado”. A palavra “ansiedade” abraça, assim, um duplo sentido: positivo quando relacionado a um futuro controlado e negativo quando associado a um futuro incerto.  Isso significa que se conseguirmos mapear melhor nossos eventos futuros e antecipar os riscos relacionados a eles, diminuiremos nosso nível de angústia.

Quanto ao termo “ansiedade” como fenômeno psíquico, é vital compreender sua ligação negativa com a angústia.

O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, em sua obra “O conceito da angústia”, descreve a angústia como um temor desencadeado pela consciência simultânea da nossa liberdade de agir e da nossa responsabilidade por essas ações”.

Ou seja, naquele exemplo em que disse que você era o líder da excursão, a angústia se dá quando você decide correr, mas sabe que isso pode ocasionar a morte dos turistas. Para Kierkegaard, a angústia está relacionado com o dilema em que nos colocamos ao fazer uma escolha.

Nesse livro, Kierkegaard discorre sobre a angústia que foi criada em Adão durante a  história da maçã. Ele sabia que não poderia comer os frutos da árvore do conhecimento, mas era livre pra fazer isso, e ele fez, mesmo sabendo que isso traria consequências para ele: o pecado original.

As ideias do Kierkegaard foram importantes influências para outros filósofos existencialistas como Jean-Paul Sartre e Martin Heidegger.

Agora, esse livro foi escrito em 1844 e Freud escreveu o artigo sobre a neurose da angústia em 1895. Essas concepções de angústia estão muito distantes das usadas pelos psicólogos hoje em dia.

Texto adaptado do livro “Habilidades para a Vida“, de Rodrigo Orellana

Entendendo os transtornos da ansiedade

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,DSM-5, (APA, 2014, p. 189), o “medo é a resposta emocional à ameaça iminente real ou percebida, enquanto a ansiedade é a antecipação da ameaça futura”, ou seja, tem função protetiva em relação à existência do indivíduo. Ocorre, porém, que em alguns casos, as manifestações excessivas das respostas somáticas de tensão causam no individuo comportamentos perturbadores que, se persistentes, podem desencadear transtornos de ansiedade. 

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), categoriza diversos transtornos de ansiedade, cada um com características específicas. Aqui estão eles em tópicos:

  1. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG):
    • Preocupação excessiva e persistente em diversas áreas da vida.
    • Dificuldade em controlar a preocupação.
    • Acompanhado por sintomas como inquietação, fadiga e dificuldade de concentração.
  2. Transtorno do Pânico (TP):
    • Ataques de pânico recorrentes e inesperados.
    • Preocupação persistente com a ocorrência de novos ataques.
    • Mudanças comportamentais para evitar situações associadas a ataques.
  3. Transtorno de Ansiedade Social (TAS):
    • Medo intenso de ser julgado ou avaliado negativamente em situações sociais.
    • Evitação de interações sociais ou enfrentamento com ansiedade significativa.
  4. Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT):
    • Experiência de eventos traumáticos seguida por reexperiência intrusiva do trauma.
    • Esquiva de estímulos relacionados ao trauma.
    • Sintomas de hiperativação, como irritabilidade e insônia.
  5. Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC):
    • Obsessões: Pensamentos intrusivos e indesejados.
    • Compulsões: Comportamentos repetitivos realizados para aliviar a ansiedade associada às obsessões.
  6. Transtorno de Ansiedade de Separação:
    • Medo excessivo de se separar de figuras de apego.
    • Pesadelos relacionados à separação e recusa em ficar longe de pessoas significativas.
  7. Fobias Específicas:
    • Medo intenso e irracional de objetos, animais ou situações específicas.
    • Evitação ativa desses estímulos.
  8. Agorafobia:
    • Medo de situações onde escapar pode ser difícil ou embaraçoso.
    • Pode levar à evitação de locais públicos.

Esses transtornos de ansiedade refletem padrões persistentes de preocupação, medo ou comportamentos específicos que causam sofrimento significativo ou prejuízo ao indivíduo. O diagnóstico e tratamento adequados são determinados por profissionais de saúde mental após uma avaliação clínica abrangente. O tratamento pode envolver terapia cognitivo-comportamental, medicamentos ou uma combinação de abordagens, dependendo das necessidades individuais.

Tratamento dos Transtornos Ansiosos por meio da Terapia dos Esquemas

A Terapia dos Esquemas oferece uma abordagem única e eficaz para o tratamento dos transtornos de ansiedade, proporcionando uma compreensão mais profunda dos padrões cognitivos e emocionais subjacentes. Ao aplicar essa terapia, os profissionais buscam identificar e modificar os esquemas disfuncionais que contribuem para a ansiedade persistente. Vamos explorar como a Terapia dos Esquemas pode ser uma ferramenta valiosa no tratamento desses transtornos:

  1. Identificação de Esquemas Desadaptativos:
    • O terapeuta trabalha em colaboração com o paciente para identificar esquemas disfuncionais, que são padrões cognitivos profundos originados muitas vezes na infância.
    • Esses esquemas podem incluir crenças negativas sobre si mesmo, os outros e o mundo, contribuindo para a ansiedade.
  2. Conexão com Experiências Precoces:
    • A Terapia dos Esquemas explora experiências precoces que deram origem a esses esquemas, buscando entender como eventos passados podem influenciar a ansiedade presente.
    • Identificar e validar essas experiências ajuda a construir uma base para a modificação dos esquemas.
  3. Modificação de Esquemas Disfuncionais:
    • A terapia visa modificar os esquemas disfuncionais por meio de técnicas cognitivas, emocionais e comportamentais.
    • Estratégias específicas são desenvolvidas para desafiar e reestruturar crenças negativas, substituindo-as por padrões mais adaptativos.
  4. Integração de Modos:
    • A Terapia dos Esquemas reconhece diferentes “modos” do self, como o modo vulnerável ou o modo punitivo.
    • Integrar esses modos permite ao paciente desenvolver uma compreensão mais completa de suas respostas emocionais, promovendo a autorregulação.
  5. Experiências Corretivas:
    • A terapia visa proporcionar experiências corretivas para reforçar novos esquemas adaptativos.
    • Isso pode incluir a vivência de situações temidas de maneira gradual e segura para alterar associações negativas.
  6. Foco na Relação Terapêutica:
    • A relação entre terapeuta e paciente desempenha um papel crucial na Terapia dos Esquemas, proporcionando um ambiente seguro para explorar e modificar esquemas disfuncionais.

Ao abordar diretamente os esquemas subjacentes, a Terapia dos Esquemas oferece uma abordagem holística e integrativa para o tratamento dos transtornos de ansiedade. Essa terapia visa não apenas aliviar os sintomas imediatos, mas também promover mudanças duradouras nas percepções e respostas emocionais, permitindo uma transformação significativa na qualidade de vida do indivíduo.

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